SORTE DE CÃO, EM QUARTA-FEIRA
Debaixo duma carrinha,
E na sombra que ela dava
Duma boa sonequinha,
Um cão rafeiro gozava.
De corpo bem estendido,
Nem um esgar, se lhe via,
E som algum ou zumbido,
Da soneca o demovia.
Tão calminha criatura,
– Em total relaxamento –
Sem temer, que a viatura,
Fosse posta em movimento.
Se era um cão abandonado,
Bem jus fez a seu intuito,
Que durante um bom bocado,
Fruiu dum prazer gratuito.
Mas ressonando mansinho,
Com à vontade instintivo,
Nem mostrou, um só pouquinho,
Ser um hóspede furtivo.
Seria sim sabedor,
Que tal carrinha, em questão,
Era de seu protector,
O dono do dito cão
Dono, que vindo feirar
Também o trouxera a ele,
P’ra não ficar a ladrar,
Sofrendo penas na pele...
E a melhor sombra que tinha,
P’ra deitar-se ao abandona,
Era a dada p’la carrinha,
Perto de seu qu’rido dono.
Que ao tê-la estacionado
No recinto dos feirantes,
Pôs o cão – se já mimado,
Num oásis, por instantes!
Com um sol, feito braseira
Cesta assim, fê-lo pensar,
Que o dono, trazê-lo á feira
Foi nas “horas de estalar”!
Nessa azáfama feiral,
De alvoroço e confusão,
Uma coisa imat’rial,
Foi riqueza, para um cão!
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