quarta-feira, 27 de junho de 2012

O SOL, O VENTO E …A SOMBRA - ( ENTRE QUARTA E QUINTA- 2012/06/27) Do livro : ( a editar) "PROPENSÕES MUSAIS"



O SOL, O VENTO E …A SOMBRA
– À volta do lago da biblioteca* –


No Estio, o sol perpassa pela copa das árvores,
- De si bem frondosas, mas mesmo assim com nesgas -
Indo ter à relva ou às passagens em terra batida,
- Instintivamente feitas pelos pés dos transeuntes -
Transformando quer a relva quer as calvas passagens
Em telas, e palcos natural e maravilhosamente iluminados

No caso do relvado, são telas com filmes da cor da noite
E no das calvas passagens, é teatro de sombras da mesma cor
É uma mais – valia para essa cena, o factor vento, nas árvores
Porque faz os ramos balançarem e as folhas agitarem-se
Ganhando com isso o chão, que ou como tela ou palco, encanta
Encanta sim, toda a alma simples, estética, sonhadora e poética!

Como é lindo esse filme, esse teatro de sombras, ou ambas as coisas
Os bancos em ma deira vazios, também mostram sua sombra
Com namorados neles sentados, então aí, redobra o belo
Triplica, quando se abraçam ou osculam animadamente,
Num acto natural e duma beleza, imprevista e sem ensaio
Também eles concorrem, para esse comovente cenário,

Se o moço pega na respectiva moça e a faz rodopiar sobre si,
É especial tal arte de sombras com vida, nesse chão à volta do lago,
E precisamente por ser super expressiva, sensual e veramente natural;
Quanto mais ela se patenteie assim, maior a surpresa e a poesia!
Passo por esse espaço muitas vezes e no Verão, atento nas cenas
Que com meu corpo e pés rasgo, na passagem até à biblioteca.

2008/09/16


segunda-feira, 25 de junho de 2012

SE UM DIA ME TORNASSE SEREIA - (O POEMA DA SEMANA - 2012/06/25) Do livro: ( a editar) " VERBOS NA PRIMEIRA PESSOA"




SE UM DIA ME TORNASSE SEREIA


Se um dia conseguisse tornar-me sereia
E pudesse este meu visual alterar…
Optaria por ter cabelos, cor de areia,
Num belo rosto e com olhos da cor do mar!

Depois construiria enigmática teia
De finas algas para nela flutuar;
E avistar um rico pirata, volta e meia
P’ró arrastar p’ra tal teia e o cativar.

As pérolas que levaria esse magnata
Sacá-las-ia e até sem muito me custar;
Não mais as vendo o engambelado pirata
Pois com os meus encantos, iria cegar...

E logo enquanto ele sozinho ocupar-se-ia
A dessa teia ardilosa, se desprender…
Bem rápida e magistralmente eu nadaria
Procurando a praia muito distante, ir ter.

Faria um colar, das pérolas - sem esforço
Com fio de pesca, encontrado no areal;
Expondo na praia, esse colar ao pescoço
P’ra no fim ser o meu nado, mais triunfal!

 

quarta-feira, 20 de junho de 2012

ESPERA MOCIDADE - (ENTRE QUARTA E QUINTA - 2012/06/20) do livro: (Já editado) "ESTRO DE MULHER"

ESPERA MOCIDADE

Mocidade minha, deixa de correr tanto!
Afrouxa e comigo fica, mais um bocado;
Não abales mais, a minha quimera de anto,
Teu correr lhe tem sido, acanto indesejado…

Meu olhar, já irradia centelhas de pranto,
E meu sorriso, já é mais amarelado….
Valerá noss’alma, ter um frescor de encanto,
Se a par, tivermos, nosso visual cansado?

Ontem te achava lenta, oh que juízo louco,
Uma quimerista, entre nuvens cor-de-rosa,
Julgando ir ter, a vivaz frescura da lua…

Porém, rugas e cãs, me acordam, pouco-a-pouco,
E tu amiga, ante minha prece chorosa,
Prossegues indif’rente, na corrida tua…

segunda-feira, 18 de junho de 2012

SEM NUME- ( O POEMA DA SEMANA - 2012/06/18) Do livro: ( a editar) "VERBOS NA PRIMEIRA PESSOA"


SEM NUME...


Sem nume, sou autora contristada,
Que - ante resignação de Jesuíta -
Sinto que minha angústia ressuscita
E choro então a cruz de malfadada…

Minha lira, plangente e acrisolada
Apadrinhar musal exige e grita;
P’ra dar asas ao sonho, que me habita
De a novos arrebóis ser transportada…

E caia chuva, frio ou neve algente,
Seja o vento chicote, incomplacente
Tudo prefiro, ao verso assaz ridículo…

É que uma cônscia musa por escolta,
E deitar no enarrado o olhar à volta...
Dão-me em "perlimpimpim", para fascículo!

quarta-feira, 13 de junho de 2012

CONSTATAÇÕES MÉTRICAS - (ENTRE QUARTA E QUINTA - 2012/06/13) Do livro: ( a editar) "ENTRE O ANTO E O ACANTO"


 CONSTATAÇÕES MÉTRICAS



Ah honoráveis versos, ah heróicos
Que presença essa vossa - que figura!,
Dum nobre pundonor de ditadura
De até tornar poetas, paranóicos!

 – Logo quer em papel, quer em brochura
Estros frágeis serão e outros estóicos
A um tal metro de assim firme estrutura…–

Salve oh tão garbosos versos sáficos
Que compleição a vossa e bel-perfil!
E que a poetisa grega, tão gentil
Vos inculcara - belos timbres gráficos!

De Safo as normas, p’ra usança servil,
Dum metro assim – boa razão de tráficos
Por dar num “ritmo” de deslumbres mil!...
                    

segunda-feira, 11 de junho de 2012

GATO ENTRE MATILHA COBARDE - ( O POEMA DA SEMANA- 2012/06/11) Do livro: (a editar) "DA RÚSTICA MUSA, QUE PASSA"

    

     GATO ENTRE MATILHA COBARDE
     - No mercado da minha cidade -

     I
     O mercado da cidade,
     Fechado e em paz de vida,
      Foi palco de atrocidade,
      Por matilha enraivecida.
     II
     Por um espaço da grade
     Um gato, lá dentro entrara,
     Dum tamanho majestade
     E com pelo de cor clara.

     Iria em gula matreira,
     Por causa do cheiro a peixe?
     Que a ele, um mercado cheira,
     Muito limpo, que se deixe?!.

      Ou quis fazer passeata,
     Com outro intento guloso,
     De topar alguma gata,
     P’ra um engate glorioso?

     Fosse qual fosse a questão,
     O gato foi surpreendido,
     Pela chegada dum cão
     E de outros logo seguido.

     Todos lá tinham entrado,
     Como o gato, o tinha feito,
     Que nas grades dum mercado,
     Eles entram a preceito.

     Ladravam de tal maneira,
     E o gato, tanto miava,
     Que o povinho em alarmeira,
     Cá de fora, aos cães gritava.

     E cravando ferradelas,
     No gato, por todo o lado,
     Causaram-lhe tais mazelas,
     Que era um horror, seu estado.

     Mas co’o mercado encerrado,
     Ninguém valer lhe podia,
     E sem algum aliado,
     Longe o gato, não iria...

E essa matilhe em acordo,
Dera-lhe um triste destino
-Tão grande, bonito e gordo -
A morte ao pobre felino…

Cadáver fora tornado,
Dando eles em debandada;
E o povo, olhando o pedrado,
A morte era-lhe lembrada...

E comungava ilações,
Pasmando e fazendo alarde:
Do gato, as limitações,
E dos cães, o acto cobarde...

Não podê-lo defender,
Fez triste o assistente humano;
Jazido e a noite a correr...
Triste sorte, a do bichano!


quarta-feira, 6 de junho de 2012

SORTE DE CÃO, EM QUARTA-FEIRA - ( ENTRE QUARTA E QUINTA - 2012/06/06) Do livro: (a editar) "DA RÚSTICA MUSA, QUE PASSA

SORTE DE CÃO, EM QUARTA-FEIRA


Debaixo duma carrinha,
E na sombra que ela dava
Duma boa sonequinha,
Um cão rafeiro gozava.

De corpo bem estendido,
Nem um esgar, se lhe via,
E som algum ou zumbido,
Da soneca o demovia.

Tão calminha criatura,
 – Em total relaxamento –
Sem temer, que a viatura,
Fosse posta em movimento.

Se era um cão abandonado,
Bem jus fez a seu intuito,
Que durante um bom bocado,
Fruiu dum prazer gratuito.

Mas ressonando mansinho,
Com à vontade instintivo,
Nem mostrou, um só pouquinho,
Ser um hóspede furtivo.

Seria sim sabedor,
Que tal carrinha, em questão,
Era de seu protector,
O dono do dito cão

 Dono, que vindo feirar
Também o trouxera a ele,
P’ra não ficar a ladrar,
Sofrendo penas na pele...

E a melhor sombra que tinha,
P’ra deitar-se ao abandona,
Era a dada p’la carrinha,
Perto de seu qu’rido dono.

Que ao tê-la estacionado
No recinto dos feirantes,
Pôs o cão – se já mimado,
Num oásis, por instantes!

Com um sol, feito braseira
Cesta assim, fê-lo pensar,
Que o dono, trazê-lo á feira
Foi nas “horas de estalar”!

Nessa azáfama feiral,
De alvoroço e confusão,
Uma coisa imat’rial,
Foi riqueza, para um cão!

segunda-feira, 4 de junho de 2012

ONDE ESTARÁ O PAPAGAIO DE AMÁLIA? - ( O POEMA DA SEMANA- 2012/06/04) Do livro: (a editar)"DA RÚSTICa MUSA, QUE PASSA"

ONDE ESTARÁ O PAPAGAIO DE AMÁLIA?
I
Tanto Amália cantara e encantara,
Tanto de outros mortais, fado expandira,
Até que um próprio fado ela, chorara,
Porque o seu papagaio lhe fugira.

Logo, alguns dos jornais, noticiaram,
O que acontecera à grande fadista,
E muitos fãs e amigos, se aprontaram,
Procurando encontrar-lhe alguma pista.

Assim, quer perto, quer nos arrebaldes,
Muito boa gentinha, bem tentara;
Esforços, em si dados em debaldes,
Que nem pena sequer, dele se achara...

E enquanto Amália, triste, só chorava,
Enquanto de alma, muito ela sofria,
Eis que outro papagaio lhe palrava,
Junto de sua porta, um certo dia.

E mercê de uma fã, que forma achou,
De ir mitigar a mágoa da fadista,
E então seu papagaio lhe ofertou,
Numa inata atitude, de alma altruísta

Fê-lo, p’ra atenuar à Diva, um mal,
Cortar-lhe um pouco à ânsia mais ao tédio;
Um novo gosto, a par de um certo mal:
Um gosto intencional, como remédio.)
II
Será que entre esta ave e a outra existe,
Concerne similar ou diferente?
Esperar é o que Diva lhe consiste
Se não o saberá já, certamente.

.E o outro papagaio, onde anda ao certo?
Será que estará preso ou à deriva?
Andará ele longe ou muito perto,
Saudoso a recordar, fado da Diva?

Ou quem for que o tenha opta por mutismo
Só pelos seus concernes, em abono
Do ter palratorismo e exotismo,
Porém sem saber quem era seu dono?

Ou sabendo, a razão que existiria,
Para assim um silêncio processado,
Era a que o palrador, pensar faria,
De por Amália ter sido ensinado?!
III
Nesse caso então, quando ele escutar,
Da Diva, um bem castiço e belo fado,
Será que ignorarão, vê-lo chorar,
Assim em cativeiro aprisionado?

Tal coragem ao certo que terão,
E a ave se lhes torna, mais querida,
Porque é ter de Amália, algo bem à o,
E sem que alguém jamais, tenha na vida!

Crendo mesmo que em fuga, p’ra voar
Voar em absoluta liberdade,
Em breve acabaria a alcançar,
Quem lhe tinha causado uma saudade!


1989/10/25

O papagaio chamava-se Chico e desaparecera em meados de Agosto de 1989 e passada mais ou menos uma semana, ofereceram a Amália outro papagaio.